Parece até clima de final de Copa do Mundo, mas não é. O contexto também não poderia ser mais oportuno: em meio à Copa das Confederações e no exato momento em que se inauguram os novos e modernos estádios padrão FIFA. A cerca de duas semanas, o Brasil tem surpreendido o mundo com uma série de manifestações espontâneas, que geram questionamentos e espanto, tanto por sua repercussão internacional como pela renitência do governo brasileiro em não reagir a tudo isso.
A situação em que os protestos começaram é, sem dúvida, bastante sugestiva: vamos sediar a Copa do Mundo mais cara da história. Em abril, o governo estimava um custo total de R$ 25,5 bilhões. Essa semana, porém, Luis Fernandes – secretário-executivo do Ministério dos Esportes – anunciou que o valor subirá para R$ 28 bilhões. Só o custo do estádio de Brasília já o coloca entre os dez mais caros da história. E se compararmos com outros mundiais o susto é ainda maior: o da Alemanha (em 2006) considerado um dos melhores em infraestrutura, custou R$ 10,7 bilhões, o da Coréia e do Japão (2002) R$ 10,1 bilhões e o da África (2010) R$ 7,3 bilhões. Some-se o fato de que, no Brasil, a FIFA estima faturar 3 vezes mais do que na última Copa, na África.
Da mesma forma que este fenômeno repentino causa perplexidade, ao mesmo tempo revela claramente alguns aspectos do Brasil em que vivemos hoje. Podemos notar o grande poder de mobilização que temos como povo. Conscientização e convocações iniciam-se nas redes sociais e, rapidamente, alcançam as ruas. E um movimento que começou de forma pontual logo alcançou o país inteiro. Impressiona também a objetividade das reinvindicações: do aumento abusivo das tarifas dos transportes, os protestos se direcionaram para a educação, a saúde e a corrupção política. E a tensão gerou os primeiros frutos: cerca de 11 capitais já prescindiram do aumento do transporte público.
Por outro lado, fato que insistentemente tem se repetido é o vandalismo oportunista. Obviamente, a turbulência que incomoda e lança uma sombra sobre legitimidade das manifestações é causada por uma minoria. Contudo, a violência dos protestos tem se seguido sem que seja coibida diretamente, nem pelos manifestantes pacíficos nem pela polícia. Isto se revela duplamente sintomático: mostra a grande alienação que ainda toma conta da população – por depredar aquilo que paga com o próprio dinheiro ou por se manter confortavelmente "neutra" – e prova que o momento histórico que vivemos é crítico, culminando em revolta violenta.
É oportuno falar também da nossa polícia. A grande mobilização social tem permitido notar o tipo de proteção que está a nossa disposição. Na Europa, cidadão na rua é manifestante, mas no Brasil é vândalo. Nossa polícia é excessivamente militarizada, se não tanto em sua formação, ainda muito em sua prática. Falta-lhe a capacidade de identificar o cidadão e dialogar pacificamente. E tratar cidadãos pacíficos como se fossem milicianos é o retrato mais nítido da nossa inversão ética: uma extensão de nossas casas legislativas, que tratam cidadãos como palhaços (aliás, crime hediondo deveria ser a corrupção de nossos políticos, que além de toda blindagem e aparatos de desfaçatez, ainda contam com foro privilegiado).
Ainda é muito cedo pra dizer que o Brasil está mudando, mas um novo passo foi dado. Diante do turbilhão que se levanta, resta-nos acompanhar e nos engajar. Porém, uma coisa é certa: é preciso ter VOZ pra ter VEZ. Pense e seja.
A situação em que os protestos começaram é, sem dúvida, bastante sugestiva: vamos sediar a Copa do Mundo mais cara da história. Em abril, o governo estimava um custo total de R$ 25,5 bilhões. Essa semana, porém, Luis Fernandes – secretário-executivo do Ministério dos Esportes – anunciou que o valor subirá para R$ 28 bilhões. Só o custo do estádio de Brasília já o coloca entre os dez mais caros da história. E se compararmos com outros mundiais o susto é ainda maior: o da Alemanha (em 2006) considerado um dos melhores em infraestrutura, custou R$ 10,7 bilhões, o da Coréia e do Japão (2002) R$ 10,1 bilhões e o da África (2010) R$ 7,3 bilhões. Some-se o fato de que, no Brasil, a FIFA estima faturar 3 vezes mais do que na última Copa, na África.
Da mesma forma que este fenômeno repentino causa perplexidade, ao mesmo tempo revela claramente alguns aspectos do Brasil em que vivemos hoje. Podemos notar o grande poder de mobilização que temos como povo. Conscientização e convocações iniciam-se nas redes sociais e, rapidamente, alcançam as ruas. E um movimento que começou de forma pontual logo alcançou o país inteiro. Impressiona também a objetividade das reinvindicações: do aumento abusivo das tarifas dos transportes, os protestos se direcionaram para a educação, a saúde e a corrupção política. E a tensão gerou os primeiros frutos: cerca de 11 capitais já prescindiram do aumento do transporte público.
Por outro lado, fato que insistentemente tem se repetido é o vandalismo oportunista. Obviamente, a turbulência que incomoda e lança uma sombra sobre legitimidade das manifestações é causada por uma minoria. Contudo, a violência dos protestos tem se seguido sem que seja coibida diretamente, nem pelos manifestantes pacíficos nem pela polícia. Isto se revela duplamente sintomático: mostra a grande alienação que ainda toma conta da população – por depredar aquilo que paga com o próprio dinheiro ou por se manter confortavelmente "neutra" – e prova que o momento histórico que vivemos é crítico, culminando em revolta violenta.
É oportuno falar também da nossa polícia. A grande mobilização social tem permitido notar o tipo de proteção que está a nossa disposição. Na Europa, cidadão na rua é manifestante, mas no Brasil é vândalo. Nossa polícia é excessivamente militarizada, se não tanto em sua formação, ainda muito em sua prática. Falta-lhe a capacidade de identificar o cidadão e dialogar pacificamente. E tratar cidadãos pacíficos como se fossem milicianos é o retrato mais nítido da nossa inversão ética: uma extensão de nossas casas legislativas, que tratam cidadãos como palhaços (aliás, crime hediondo deveria ser a corrupção de nossos políticos, que além de toda blindagem e aparatos de desfaçatez, ainda contam com foro privilegiado).
Ainda é muito cedo pra dizer que o Brasil está mudando, mas um novo passo foi dado. Diante do turbilhão que se levanta, resta-nos acompanhar e nos engajar. Porém, uma coisa é certa: é preciso ter VOZ pra ter VEZ. Pense e seja.
Perfeito! Quando um texto é muito bem escrito e muito bem colocado, ficamos até sem ter muito o que acrescentar. Resta-nos torcer para que todos os protestos tenham os resultados esperados em todos os pontos reivindicados. Abraços meu irmão!
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