Num mundo cercado de luzes, imagens e anúncios, é natural que se conviva com a influência da aparência. As pessoas se habituaram a fazer das impressões sensoriais seus primeiros censores de contato com tudo a sua volta. Estética e plasticidade, hoje em dia, são padrões quase que incontestáveis de aceitação social, pelo mesmo motivo que usamos o espelho: para admirar a forma. O que surge daí é aquele ímpeto de sustentar uma imagem de impacto. Quase nunca ela é o que somos, mas sempre expressa o que, de maneira inversa, fazemos questão de esconder.
Essa fuga da realidade produz a falsificação que chamamos de mentira. Mentira é tudo o que é do lado de fora, mas não corresponde ao que é do lado de dentro. E mentir vicia. Há quem minta apenas pra escapar de uma situação difícil, mas há também quem nem saiba mais quem é, já que o seu mundinho se define pelo vício de “manipular informações mentalmente”. O certo é que nenhum de nós está imune ao fato. E todos acabamos voltando ao velho dilema ético dos antigos filósofos e grandes pensadores, que se resume na pergunta de Pilatos a Jesus: “o que é a verdade?”.
Mentira e verdade são termos de fácil apreensão, mas que, por conta do moralismo histórico/religioso no qual estamos mergulhados, se tornaram de difícil compreensão. Basta pensarmos rapidamente no oposto da mentira, como falsificação da realidade, e chegaremos à sinceridade. Mas nem sempre é ético ser sincero. Sabemos que no afã do sincerismo de sempre dizer a verdade, algumas pessoas cometem um mal pior do que se julga da mentira. São verdadeiros “sincericídios”, palavras que entram como uma britadeira de goela à baixo e acabam com a existência do outro – e tudo sob o pretexto ético da verdade. Portanto, é impossível julgar imutavelmente mentira como um mal e verdade como um bem – não pelo que aparentem. Lembre que pra Jesus as sombras estão do lado de fora, e a luz, do lado de dentro!
O fato que mais me choca, no contexto da Bíblia, é o de a mentira ter sido um meio de fazer o bem, e mais, de tornar uma prostituta uma heroína da fé. Se você não conhece Raabe (Js 2:1-3, 6:25), ela é aquela figura que põe todo o moralismo teológico desta questão no lixo. Poucos se atrevem a analisar a mentira que ela contou para salvar os espias do ponto de vista de a própria Bíblia condenar a mentira. Porém, Raabe é o exemplo de que verdade e mentira pertencem a estâncias muito mais profundas do ser. Raabe me mostra que a mentira se relativiza moralmente quando, eticamente, produz o bem e o que é vida.
Se tentarmos ser bem práticos, podemos pensar em mentira como estando em dois níveis. Muitos pensam que a mentira tem apenas a ver com o que não é real – sua falsificação da realidade. Mas, se formos bem sinceros, temos que admitir que mentimos “dentro de nós”, que é a maior mentira que cometemos: o auto-engano. Vivemos fingindo que “não foi com a gente”, que “eu é que tinha a razão” ou “pensando melhor, não foi bem assim” e acabamos criando o “mundinho pessoal da nossa mente” que já falei. O problema é que mentira tem a ver com verdade também. E realidade e verdade nem sempre são a mesma coisa.
Realidade tem a ver com o dado factual, a informação circunscrita à exatidão do espaço e do tempo, à circunstancialidade. Por isso, toda realidade é aparência. Mas a verdade não. A verdade está radicada no âmago do ser, ela é o que é pra além da aparência. E quando falamos de mentira como falsificação da verdade, aí então, encontramos o pior dos males. Não sobra nada quando se falsifica a verdade, nem mesmo o vácuo. Isto porque a mentira mata. Isto porque só a verdade liberta.
Daí então, se torna prático lidar com mentira e verdade. Verdade é tudo que produz o bem, procura a vida, mesmo quando se utiliza da mentira – informação falsificada da realidade – para fazer acontecer. É o caso de Raabe e de tantos outros, quando uma mentira se torna um mal menor do que se tornar cúmplice da morte. Por outro lado, mentira também se utiliza da verdade pra matar – e não apenas fisicamente – quando o disfarce, na realidade, acontece na intenção do coração.
Sábio é aquele, como diz o provérbio, que sabe o tempo e o modo das coisas desta vida (Ec 8:5). Não há sentido na falsificação, mas há muita sabedoria naquele que omite. Sim, a verdade liberta, mas até ela tem seu tempo e modo. Num mundo caído, cada coisa deve ser medida por sua propriedade e até a verdade precisa ser conduzida em amor pela sabedoria. É por isso que Jesus mesmo disse aos seus discípulos: “Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora. Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade” (Jo 16:12-13).
Aquele que for sábio entenda e assim haja.
Essa fuga da realidade produz a falsificação que chamamos de mentira. Mentira é tudo o que é do lado de fora, mas não corresponde ao que é do lado de dentro. E mentir vicia. Há quem minta apenas pra escapar de uma situação difícil, mas há também quem nem saiba mais quem é, já que o seu mundinho se define pelo vício de “manipular informações mentalmente”. O certo é que nenhum de nós está imune ao fato. E todos acabamos voltando ao velho dilema ético dos antigos filósofos e grandes pensadores, que se resume na pergunta de Pilatos a Jesus: “o que é a verdade?”.
Mentira e verdade são termos de fácil apreensão, mas que, por conta do moralismo histórico/religioso no qual estamos mergulhados, se tornaram de difícil compreensão. Basta pensarmos rapidamente no oposto da mentira, como falsificação da realidade, e chegaremos à sinceridade. Mas nem sempre é ético ser sincero. Sabemos que no afã do sincerismo de sempre dizer a verdade, algumas pessoas cometem um mal pior do que se julga da mentira. São verdadeiros “sincericídios”, palavras que entram como uma britadeira de goela à baixo e acabam com a existência do outro – e tudo sob o pretexto ético da verdade. Portanto, é impossível julgar imutavelmente mentira como um mal e verdade como um bem – não pelo que aparentem. Lembre que pra Jesus as sombras estão do lado de fora, e a luz, do lado de dentro!
O fato que mais me choca, no contexto da Bíblia, é o de a mentira ter sido um meio de fazer o bem, e mais, de tornar uma prostituta uma heroína da fé. Se você não conhece Raabe (Js 2:1-3, 6:25), ela é aquela figura que põe todo o moralismo teológico desta questão no lixo. Poucos se atrevem a analisar a mentira que ela contou para salvar os espias do ponto de vista de a própria Bíblia condenar a mentira. Porém, Raabe é o exemplo de que verdade e mentira pertencem a estâncias muito mais profundas do ser. Raabe me mostra que a mentira se relativiza moralmente quando, eticamente, produz o bem e o que é vida.
Se tentarmos ser bem práticos, podemos pensar em mentira como estando em dois níveis. Muitos pensam que a mentira tem apenas a ver com o que não é real – sua falsificação da realidade. Mas, se formos bem sinceros, temos que admitir que mentimos “dentro de nós”, que é a maior mentira que cometemos: o auto-engano. Vivemos fingindo que “não foi com a gente”, que “eu é que tinha a razão” ou “pensando melhor, não foi bem assim” e acabamos criando o “mundinho pessoal da nossa mente” que já falei. O problema é que mentira tem a ver com verdade também. E realidade e verdade nem sempre são a mesma coisa.
Realidade tem a ver com o dado factual, a informação circunscrita à exatidão do espaço e do tempo, à circunstancialidade. Por isso, toda realidade é aparência. Mas a verdade não. A verdade está radicada no âmago do ser, ela é o que é pra além da aparência. E quando falamos de mentira como falsificação da verdade, aí então, encontramos o pior dos males. Não sobra nada quando se falsifica a verdade, nem mesmo o vácuo. Isto porque a mentira mata. Isto porque só a verdade liberta.
Daí então, se torna prático lidar com mentira e verdade. Verdade é tudo que produz o bem, procura a vida, mesmo quando se utiliza da mentira – informação falsificada da realidade – para fazer acontecer. É o caso de Raabe e de tantos outros, quando uma mentira se torna um mal menor do que se tornar cúmplice da morte. Por outro lado, mentira também se utiliza da verdade pra matar – e não apenas fisicamente – quando o disfarce, na realidade, acontece na intenção do coração.
Sábio é aquele, como diz o provérbio, que sabe o tempo e o modo das coisas desta vida (Ec 8:5). Não há sentido na falsificação, mas há muita sabedoria naquele que omite. Sim, a verdade liberta, mas até ela tem seu tempo e modo. Num mundo caído, cada coisa deve ser medida por sua propriedade e até a verdade precisa ser conduzida em amor pela sabedoria. É por isso que Jesus mesmo disse aos seus discípulos: “Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora. Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade” (Jo 16:12-13).
Aquele que for sábio entenda e assim haja.
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