Carência como definição humana

O que é carência?

Sendo bem reducionista, todas as nossas relações partem da nossa insuficiência.

Precisamos de outros.

Daí que, se gostar é manifestar necessidade, a violência é a forma negativa deste precisar.

É carência, só que frustrada. Uma carência exclusivista.

E tantas outras possibilidades.

Por isso me parece que a carência define muita coisa do que nós somos.

Mas isso não é tudo.

Geralmente se pensa em homens e mulheres sob aspectos biológicos.

Mas eles são de uma constituição tão difusa, que seria bobagem reduzir tudo à sexualidade.

Então, carências são posturas diferentes de homens e mulheres.

E ainda há mais.

Se afeto e violência, amor e ódio, são a ponta externa das carências, o que é a ponta interna?

O indivíduo. O começo, o gerador das carências.

Carências que se definem nele, partem dele e dele fazem parte.

Já que quanto mais carências, mais insuficiências.

Carência que carece de segurança no indivíduo, virando dependência.

Então, carecemos, mas em níveis diferentes.

E há quem careça tanto de outros pra apenas fugir de si mesmo, de encarar a própria insuficiência.

Por outro lado, há quem tenha tanto medo de carecer, que vira o próprio cárcere narcisista.

Portanto, carência é desejo, é encontro.

Mas carecer da carência é doença, é fuga.

É não querer se enxergar.

É autoviolência.

É carecer do bom senso.

É parasitar.

É morrer.

Carência carece mesmo de quem a assuma, de quem na segurança de si a si mesmo se doa, sem se doer.

Carências provam o caráter.

E nos dizem, no fim das contas, o que há por trás do que tanto desejamos ter.

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