Recentemente, fiquei profundamente impactado com os números do Atlas da Violência de 2019 [1], divulgado essa semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em parceira com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em termos gerais, somente em 2017 (os dados de 2018/2019 ainda não estão completamente contabilizados) o Brasil alcançou 65.602 homicídios, atingindo a maior marca de sua história. Isso significa o extermínio de uma pequena cidade brasileira, cenário que nos aproxima de países em guerra civil.
Evidentemente, no ambiente polarizado em que vivemos, a pesquisa por si só pode soar um disparate e rapidamente cair no esquema binário esquerda-direta. Não me proponho a esse mister.
Há parcelas de correlações quanto ao fator da pobreza na violência, da ação do crime organizado e dos impactos do Estatuto do Desarmamento, mas não respondem de forma contundente pelo todo. Senão, os números seriam mais homogêneos em todo o país. Parece-me, de fato, que o fator determinante está nas diferentes políticas públicas adotadas em cada região. A meu ver, é o que melhor explica as diferenças regionais nos números.
Contudo, o que me causa profunda dor é o perfil demográfico das mortes violentas. Em números absolutos, é gente pobre e que mora nas periferias do Norte e Nordeste, levando ao aumento de 68% dos homicídios no decênio referido. Revela também um escandaloso problema social, já que 75,5% das vítimas de homicídios são negras, expondo a discriminação racial vigente entre nós. A diferença é brutal.
Diante dos dados, inegável estarmos em convulsão social.
Pergunto, no cenário em que vivemos, que tipo de resposta a nossa fé cristã está apta a dar? Se não nos encontramos tão vulneráveis a estes fatos, se de algum modo nosso sono não tem sido perturbado com as questões básicas da existência, muito provável que se deva ao fato de não estarmos passando tanto tempo nestes focos de violência.
Provável que não costumemos conviver de perto com o pobre e suas pobres necessidades, de pouco fazermos em relação às autoridades públicas, de nossas orações estarem se ocupando de temas menos incômodos e práticos.
É bem possível estar faltando em nós um pouco D'Aquele pobre carpinteiro das periferias de Israel. Aquele que falou do amor ao próximo, que ensinou a dar de comer e beber ao que se fizer nosso inimigo, que perdoou numa cultura de violência. Ele, que nos deixou a Sua paz, não a do mundo, mas a contracultura da paz.
Deve ser isso.
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[1] Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/190605_atlas_da_violencia_2019.pdf
Reflexão top, grande amigo! Saudades!!!!
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