A opinião se tornou um campo de batalha

Acompanhando a rapidez da informação e a visibilidade das redes sociais, a vida das pessoas tem sido caracterizada pela superexposição da imagem e a impermeabilidade das afinidades.

Imagem: Alex Patterson / The Gateway

Recente levantamento realizado pela consultoria Quaest e divulgado pelo portal Poder 360 [1] revela curiosa tendência no Brasil. Em números absolutos, praticamente equivalem-se aqueles que preferem canais de televisão e jornais impressos como fontes confiáveis de notícias aos que usam sites e redes sociais com a mesma finalidade.

Segundo os dados de amostragem da pesquisa, 30% dos entrevistados confiam mais nas notícias de TV e semelhantes 9% confiam mais em jornais impressos, enquanto 25% dos entrevistados confiam mais em notícias de sites e portais, agregando-se a esse número 9% dos respondentes, que confiam mais em notícias de redes sociais.

Portanto, atualmente, uma expressiva quantidade de brasileiros não apenas rechaça os tradicionais veículos de informação como também forma sua opinião em seus próprios círculos de relacionamento virtual.

Particularmente interessante é o dado de que considerável parcela dos internautas cada vez mais se restringe ao seu mundo de grupos de WhatsApp, timelines e digital influencers. Mas qual é o impacto dessa progressão?

Alguns são bastante óbvios. Aparecimento da "cultura da lacração" e o aumento dos haters, o assassinato de reputações, distopia. Porém, isso não é tudo o que se pode deduzir da era que experimentamos. Há uma parte do fenômeno compartilhada por todos, que produz efeitos e expõe uma face oculta do ser humano.

Numa coisa as redes sociais nos serviram: provar o quanto somos parciais, enviesados e completamente convictos da objetividade de nossa compreensão. Filtramos o que somente nos interessa, evitamos o que nos afronta, negamos o que foge às nossas capacidades. Quase invariavelmente, com soberba irracional, rejeitamos os indícios de não sermos realmente tão bons o quanto julgamos.

A opinião se tornou um campo de batalha. As bolhas das redes sociais estão selando gaps entre preferências e impossibilitando a coexistência. Busca-se um fandom onde não haja discordância. Todo mundo tem opinião sobre tudo, e é preciso afirmá-la a qualquer custo, porque a opinião se tornou a ostentação da personalidade, a marca da pessoa. Travam-se guerras de palavras como se senhores de certezas absolutas fossem, tiranos pelo triunfo sobre quem escuta/lê.

As cores estão se tornando menos matizadas, a diversidade menos divertida, o mundo uma thread confusa demais. Feliz aquele que se permite ser contrariado.
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[1] https://static.poder360.com.br/2019/11/pesquisa-quaest.pdf

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