Aliança Pelos Bolsonaro

Imagem: Lucaiana Amaral / UOL
O futuro partido do presidente Jair Bolsonaro foi lançado oficialmente ontem, dia 21 de novembro, com direito a um painel emblemático da sigla da legenda, encrustado com "cerca de 4 mil cartuchos de armas diversas", dentre elas "calibres .40, .50, 762 e 556 doados pelo Exército após treinamentos internos da corporação" [1], segundo reportagem veiculada pelo site UOL notícias.

A pretensão do dono da nova agremiação  -  leia-se "dono" literalmente (conforme o manifesto do partido, cuja íntegra expus aqui)  -  é assumir o número 38 nas urnas (em disputa com o também em processo de formação Partido Militar Brasileiro), mais uma referência à estranha fixação tanatofílica do atual chefe do Executivo brasileiro.

Com perfil ultra-conservador e casca liberal, o "Aliança Pelo Brasil" (APB) corporifica a instituição de um peculiar radicalismo político, mesclando antigas alcunhas das bancadas congressuais, no caso, o "BBB" - Boi (oculto em Família), Bala (ostentada como necropolítica pública) e Bíblia (cooptando o setor mais corrupto e nefasto do evangelicalismo brasileiro).

Partido da família Bolsonaro, esta "nova Aliança" nasce com sede de sangue, ostentando como símbolo a bala. A sanha do presidente vem acompanhada de envio de novo projeto de lei sobre excludente de ilicitude para agentes de segurança [2] (já rejeitado na análise da Câmara ao "Pacote Anti-crime", do ministro Moro), desta feita ainda mais abjeto pela chantagem de Bolsonaro em não autorizar operações de GLO nos estados da federação enquanto os parlamentares não aprovarem sua pauta [3] - convenha-se - manifestamente partidária.

Formaliza-se a manipulação dos piores aspectos culturais e morais da religiosidade nacional e dissemina-se o ódio escamoteado ao diferente. Faz-se uma ode à bala, numa anômala hermenêutica do cristianismo a fim de justificar atos de violência, há muito superada. Sendo assim, Bolsonaro mal pôde conter sua empáfia com a cadeira presidencial e nem suas escusas pretenções, mais explícitas do que nunca.

No entanto, não concebo aliança alguma pelo Brasil em tal ato, senão aliançar leal e resignadamente os já convertidos militantes bolsonaristas ao seu czar sob um teto partidário nacionalista e autoritário, e assim garantir um feudo político sucessório para a linhagem dos Bolsonaro (com o qual o presidente iniciou na política seu filho "04", Jair Renan, listado entre as vogais do partido [4]). Verve de uma família prolífera.

Reconheço somente uma nova aliança, o sangue da justiça, que fala melhor que o assassinato que demanda vingança:

"e (chegastes) a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o sangue de Abel".

Hb 12.24.
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[1] https://www.bol.uol.com.br/noticias/2019/11/21/artista-cria-obra-para-novo-partido-de-bolsonaro-com-400-cartuchos-de-balas.htm
[2] https://www.conjur.com.br/2019-nov-21/bolsonaro-encaminha-projeto-amplia-excludente-ilicitude
[3] https://g1.globo.com/politica/blog/gerson-camarotti/post/2019/11/22/para-lideres-bolsonaro-coloca-faca-no-pescoco-do-congresso-ao-insistir-em-excludente-de-ilicitude.ghtml
[4] https://conteudos.xpi.com.br/politica/relatorios/resumo-diario-de-politica-22-11-2019-evento-ontem-marcou-a-criacao-do-partido-bolsonarista-alianca-pelo-brasil/

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