2.3. BREVES NOTAS SOBRE A CANONICIDADE DO NOVO TESTAMENTO
A história da canonicidade dos livros do Novo Testamento pertence uma categoria diferente. De acordo com Harris, embora não haja motivos de ordem espiritual para desprezar o Antigo Testamento, é pertinentemente bíblico exaltar o Novo Testamento, posto que seu conteúdo é mais completo do que o do Antigo em sua exposição da redenção humana. Naturalmente, em relação ao Antigo, as questões de canonicidade são de redobrada importância no âmbito do Novo Testamento (2004, p. 189).
2.3.1. Impulsos para a coleção dos livros do Novo Testamento
Tornando a fazer uso das lições de Geisler e Nix, é possível elencar-se ao menos três tipos de impulso pelos quais a canonicidade do Novo Testamento foi estimulada. De um lado, os primeiros pais da igreja se viram pressionados a conceber uma lista oficial de livros canônicos pela necessidade de sua leitura e tradução para a crescente comunidade cristã (2000, p. 103).
Por outra via, tornou-se logo necessário definir os limites do cânon em vista da proliferação de literatura herética [5] que reivindicava autoridade divina. Finalmente, a perseguição política sofrida no início do século IV foi decisiva, no sentido de conclamar um sério exame para quais livros se deveria estar disposto a dar a vida e quais poderiam ser entregues à fogueira [6] (op. cit., 2000, p. 104).
2.3.2. A compilação progressiva dos livros do Novo Testamento
Embora não haja indícios para algo equiparado a uma comunidade profética coligindo os escritos do Novo Testamento, Harris não tem dúvida de que altíssimo grau de unanimidade sobre os livros canônicos foi alcançado pela igreja em seu período inicial, e mesmo entre as vertentes romana, protestante, grega e ortodoxa do Cristianismo, na atualidade (2004, p. 191).
Decerto há evidências suficientes de que os cristãos primitivos colecionaram e preservaram os escritos que costumeiramente circulavam entre as igrejas da primeira era cristã. Geisler e Nix afirmam que um processo seletivo estava em operação, mediate o confronto direto dos diversos ensinos correntes sobre Cristo com o ensino apostólico, de modo que as testemunhas oculares se tornaram verdadeiro “cânon” vivo dos escritos autorizados (Lc 1:2; At 1:21,22; 2:42) (2000, p. 106).
Sustentam ainda os autores mencionados que um processo incipiente de canonização foi fomentado com a leitura pública dos livros inspirados, à medida que as igrejas recebiam, liam e coligiam os escritos como dotados de autoridade divina (Cl 4:16; 1Ts 5:17; Ap 1:3) (op. cit., 2000, p. 107).
Asseveram, pois, que um cânon das Escrituras foi declarado tacitamente pelos primeiros cristãos, vez que os livros comprovadamente apostólicos eram lidos na igreja e circulavam entre as demais regiões (Ap. 1:1; Tg 1:1; 1Pe 1:1), mediante coletâneas de cópias dos documentos autênticos, de maneira que os 27 livros do Novo Testamento haviam sido reconhecidos já ao final do século I (GEISLER; NIX, 2000, p. 107-108).
2.3.3. O reconhecimento dos livros canônicos do Novo Testamento
O reconhecimento histórico do cânon do Novo Testamento constitui também um processo, demandando anos para a ampla aceitação dos livros que comporiam a Escritura. No entanto, Harris opina que não é preciso delongar a identificação do cânon cristão para o século IV, tendo em vista que a igreja teve no Antigo Testamento um cânon desde seu começo (2004, p. 207).
E no que pertine ao cânon do Novo Testamento, o estabelecimento final dos 27 livros inspirados foi alcançado em curto período. Geisler e Nix traçam conciso panorama, no qual o exame de cada escrito mediante a citação da autoridade divina foi realizado no século II, dúvidas e objeções à determinados livros seguiram-se ao lado das primeiras compilações no século III, findando nas decisões dos pais da igreja e a influência dos concílios do século IV (2000, p. 113).
Desde então, o atual cânon de 66 livros tem sido majoritariamente aceito pela comunidade cristã como sendo as Escrituras divinamente inspiradas e autorizadas.
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[5] Releva destacar o cânon herético de Marcião (c. 140 d. C.), que publicou a primeira lista de livros canônicos do Novo Testamento, contudo, omitindo de sua coleção livros de evidente importância (GEISLER; NIX, 2000, p. 103).
[6] Geisler e Nix anotam que no ano de 303 d. C., Diocleciano outorgou um edito imperial ordenando a queima das Escrituras Sagradas, exatos 25 anos depois que Constantino havia pedido a Eusébio, historiador cristão, que lhe confeccionasse cinquenta exemplares da Bíblia (2000, p. 104).
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