Teologia e Fé Cristã: como a Teologia se desenvolveu dos Pais da Igreja até a Reforma [Parte 1]

 
O ser humano é reflexivo por natureza. Indaga, procura sentidos para suas experiências e convive com as limitações que o tempo e as circunstâncias de sua constituição lhe impõem.

A Teologia tem auxiliado nessas inquietações humanas desde os tempos mais remotos. A alma parece sempre insaciável e a ideia de um Ser Supremo aparece desde logo em diversas expressões culturais ao entorno do mundo.

Com o advento do Cristianismo, a Teologia alçou compreensões mais sólidas e adquiriu em Cristo um eixo central. Contudo, o ser humano continuou irrequieto e, no transcorrer dos séculos, interpretou a Literatura Sagrada pelos mais diferentes prismas, produzindo reflexões que cumprem papel determinante na história da própria humanidade.

A seguir, discorrer-se-á sobre as contribuições reflexivas de algumas dentre as principais correntes de pensamento teológico contemporâneo e recentes, chegando-se, ao fim, numa síntese sobre sua importância para a fé cristã na atualidade.

1. DA PATRÍSTICA À REFORMA PROTESTANTE

Durante a longa História da Teologia Cristã, diversos foram os enfoques atrelados às necessidades e condicionantes de cada contexto cultural envolvido. Conforme define Costa, o estudo de Teologia Contemporânea é eminentemente análise e crítica, uma vez que se ocupa das manifestações de pensamento surgidas após a Reforma e, majoritariamente, contrárias a ela (2004, p. 10).

Sendo assim, o percurso deste texto é levantar os antecedentes da Reforma para, sob este marco, abordar algumas das teologias contemporâneas e mais recentes.

1.1. A TEOLOGIA PATRÍSTICA
Patrística é a nomenclatura utilizada para referenciar-se aos primeiros líderes da História da Igreja Cristã, cujos pensamentos fixaram as balizas da reflexão teológica e a nortearam na era pós-apostólica.

Segundo Champlin, é possível dividir cronologicamente a questão patrística em pais ante-nicenos (Clemente de Roma, Policarpo e Inácio, entre outros) e pós-nicenos (como Atanásio, Gregório de Nissa, Jerônimo, Agostinho e Orígenes), figurando Agostinho e Orígenes como os principais influenciadores (2013, p. 128).

Importante ressaltar que tais escritos nos revelam as práticas primitivas da Igreja Cristã, posto que tais tratados dirigiam-se aos iniciantes na caminhada do Cristianismo e nem sempre oferecem uma completa noção da reflexão teológica vigente (RODRIGUES, 2005, p. 36).

Ademais, não se pode olvidar a imensa contribuição e impacto exercidos por  Agostinho de Hipona. Ele foi o primeiro teólogo cristão a elaborar uma síntese entre fé, filosofia e vida. Ainda inter-relacionou fé e razão, pois para ele, a razão é impulsionada pela fé e a fé é clarificada pela razão (REALE; ANTISERI, 2005, p. 101). Em Agostinho, a filosofia cristã amadurece.

1.2. A TEOLOGIA ESCOLÁSTICA
A Escolástica é o período em que, sob o domínio da Igreja Ocidental, profunda erudição desenvolveu o ensino da teologia e filosofia na Europa Medieval. As mesmas discussões sobre a datação do fim da Patrística versam sobre os primórdios da Escolástica.

O período foi fortemente marcado pelo ressurgimento do aristotelismo, este forjado pelas mentes de Averróis e Tomás de Aquino, cada qual ao seu modo. Escolas foram promovidas por ordens religiosas, como os franciscanos e os dominicanos, e entre os pensadores se destacaram nomes como Duns Scoto, Boaventura, Avicena, entre outros (CHAMPLIN, 2013b, p. 481).

A utilização da filosofia figura como principal característica dos escolásticos. A abordagem dos problemas teológicos era feita através do método dialético, o que ocasionava infindáveis discussões (RODRIGUES, 2005, p. 54).

O notório destaque do período é o pensamento de Tomás de Aquino. Segundo Reale e Antiseri, sua filosofia tem dupla feição, sendo considerada um preâmbulo para a fé e, ao mesmo, um instrumento apologético para o debate teológico (2005, p. 226). Conforme ele mesmo expôs em sua Suma, é necessário se chegar a um primeiro motor, o qual não é movido por nada, e a quem todos designam por Deus (AQUINO, [s.d.], p. 130). Dessa forma, através do pensamento tomista, a Teologia passa a ser considerada uma reflexão sobre Deus.

1.3. A TEOLOGIA DA REFORMA PROTESTANTE
A Reforma Protestante é o movimento de inflexão histórica que provocou a fragmentação da Igreja Cristã Ocidental, tendo sua forma preliminar em grandes vultos como John Wycliffe e John Huss.

A Reforma teve sua expressão na figura de Martinho Lutero, em 1517, ao afixar suas 95 Teses à porta da Catedral de Wittenberg e iniciar a grande controvérsia. O levante inicial de Lutero foi continuado por intermédio de pessoas muito hábeis e abnegadas, dentre os quais se destacaram Melanchthon, Zwínglio, João Calvino e John Knox, cujas ênfases se concentraram no apego à autoridade da Bíblia e a repelência ao tomismo (CHAMPLIN, 2013a, p. 659).

Alguns consideram que a Reforma trouxe novo enfoque à Teologia. Contudo, não houve diferenças quanto às doutrinas fundamentais do Cristianismo — a exemplo, na doutrina da Trindade. Tais divergências surgiram no campo da interpretação da Bíblia, eixo central da construção teológica, e que ficaram eternizadas no refrão: Sola Gratia, Sola Fide, Sola Scriptura (RODRIGUES, 2005, p. 62).

Nesse particular, João Calvino figura como uma das mentes mais profícuas do pensamento reformador. Seus temas mais candentes são a providência — como continuação do ato divino da criação — e a predestinação — que se define pelo eterno beneplácito de Deus por meio do qual Ele determinou fazer a cada ser humano aquilo que queria (REALE; ANTISERI, 2004, p. 95).

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