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2. CONTEXTO HISTÓRICO DA REFORMA PROTESTANTE
Martinho Lutero (1483–1546) foi o personagem irradiador da Reforma Protestante. Em 31 de outubro de 1517, intencionando uma exposição para debate, ele afixou 95 teses na porta da igreja de Wittenberg, que servia como uma espécie de quadro de avisos da universidade, um procedimento normal. Lutero desafiou as indulgências com linguagem vigorosa e nítida e, para sua surpresa, suas teses criaram uma imensa sensação (LATOURETTE, 2006, p. 62).
Nestes moldes, as teses de Lutero se propagaram gradualmente e de forma irreversivelmente profunda, fato que traria consigo desdobramentos imprevisíveis ao próprio reformador alemão.
O termo “Reforma” se popularizou, contudo, não é capaz de refletir acertadamente a diversidade desse evento histórico. Mais correto é denominar de “Reformas”, visto que muitos deram continuidade e diversificaram as tendências do movimento iniciado por Lutero. Como aponta Oliveira, o estudo do Protestantismo no séc. XVI inclui as Reformas: Luterana, Zwingliana, Calvinista, Radical e Anglicana. Todavia, sabe-se que há várias outras correntes destas derivadas (2011, p. 36).
2.1. AS RELAÇÕES ENTRE LUTERO E CALVINO
Lutero e Calvino foram as mentes mestras mais influentes dos Movimentos de Reforma, sem sombras de dúvida. Chegaram a ser contemporâneos, mas evidenciaram personalidades marcantes e ênfases distintas no ambiente reformador da Igreja.
No entanto, deve-se notar, como o faz Latourette, que Lutero e Calvino eram muito diferentes. Lutero, intensamente emocional, foi moldado por suas experiências de alma, demonstrando pouco esforço para alcançar uma ordem social ideal em seus dias. Calvino, intelectual, lógico, claro, parecia colocar o mínimo de emoção em seu ensino e pregação. Esforçou-se por trazer à realidade comunidades cristãs ideais. No entanto, as similitudes entre Lutero e Calvino foram tão marcantes quantos suas diferenças. Ambos reverenciavam as Escrituras (2006, pp. 131–132).
Por sua vez, Kuyper destaca que Lutero teve como ímpeto, tanto mais que Calvino, combater o conflito amargo que levou à ruptura histórica do Cristianismo. Assim, Lutero pode ser interpretado sem Calvino, mas Calvino não pode ser compreendido sem Lutero. Em grande medida, Calvino começa a colheita do que Lutero havia semeado na Alemanha e Europa à fora. Mas, se a questão é quem detinha o discernimento mais claro do princípio reformador e o aplicou mais amplamente, a História pesa em testemunho de Calvino. Lutero lutou pela comunhão direta com Deus, mas no sentido subjetivo e antropológico. Calvino também lutou por essa comunhão direta, mas por seu lado objetivo e cosmológico (2019, p. 20).
Neste sentido, é preciso frisar que Calvino foi determinante para o surgimento de uma linha distinta e bem demarcada neste contexto de progressão da Igreja Reformada.
Portanto, o Protestantismo Reformado emergiu em paralelo ao Luteranismo. Nele há variantes, entretanto, constituiu uma família de igrejas que se associariam mundialmente nos sécs. XIX e XX. Lutero exerceu influência sobre o movimento, mas em sua origem, o Protestantismo Reformado recebeu ainda mais influência do Humanismo. Nenhum outro líder isolado lhe impôs marca tão profunda quanto Lutero, mesmo assim, João Calvino o moldou mais do que qualquer outro, ainda que Zwinglio, Farel e Bucer estivessem anteriormente mais conectados que ele próprio (LATOURETTE, 2006, p. 112).
2.2. O CALVINISMO E A CONTROVÉRSIA REMONSTRANTE
Em 1610, uma decisiva controvérsia surgiu no seio das Igrejas Reformadas da Holanda. Um professor de Teologia da cidade de Leyden, chamado Jacob Armínio (1560–1609), havia formulado cinco pontos nos quais rejeitava os ensinos de Calvino. Ele e seus seguidores ensinavam a eleição condicional com base na previsão da fé, a expiação universal, a depravação parcial e a possibilidade de cair da graça (CLIRE, 2016, p. 7). Os Arminianos, seguidores de Armínio, ficaram conhecidos também pelo nome de “Remonstrantes”.
Aos Cinco Artigos da Remonstrância seguiram-se os mais conhecidos Cinco Pontos do Calvinismo. Para Piper, os Cinco Pontos do Calvinismo tratam da soberania de Deus na maneira como Ele salva pessoas, não do Seu poder e soberania em geral. Por esta razão é que estes pontos também são chamados de doutrinas da graça (2014, p. 11).
Ocorreu então que, entre 1618 e 1619, um Sínodo convocado em Dort elaborou “Cinco Artigos Contra os Remonstrantes”, que ficaram conhecidos como Os Cânones de Dort. Nestes Cinco Pontos, o Sínodo fixou a doutrina Reformada, a saber: a eleição incondicional, a expiação definida, a depravação total, a graça irresistível e a perseverança dos santos (CLIRE, 2016, p. 7). E como Piper ratifica, embora nem todas as igrejas Batistas tenham vindo a sustentar a teologia Reformada, há uma importante tradição Batista que descende dela e ainda estima suas doutrinas centrais (2014, p. 13).
2.3. BREVES NOTAS SOBRE O CALVINISMO
Pode-se definir resumidamente o Calvinismo como nome dado ao conjunto de ideias relacionadas ao ensino e vida do reformador francês João Calvino (1509–1564). Em seu inteiro teor, o Calvinismo é um sistema teológico bastante coerente. Seus temas centrais são a Providência — como continuação do ato Divino da criação, e a predestinação — que se define pelo eterno conselho de Deus por meio do qual Ele determinou fazer a cada ser humano aquilo que queria (REALE; ANTISERI, 2004, p. 95).
No decurso do tempo, o Calvinismo foi tomado por diversas acepções, muitas delas díspares. Kuyper relaciona ao menos quatro, sendo as quais: de estigma sectário, de identificador confessional, de distintivo denominacional e de caráter científico. Na acepção confessional, um calvinista é aquele que subscreve sinceramente a doutrina da predestinação (2019, p. 11–12).
No entanto, o Calvinismo também se destacou por sua inerente praticidade. Conforme Oliveira relata, a Reforma Calvinista foi a que apresentou mais robusta consistência teológica e a que mais se espalhou na Europa Ocidental. Nos ensinos de Calvino se aliam a vida prática e a religião, incluindo elementos sociais e econômicos. E nenhum outro reformador foi tão incisivo no procedimento ético, conforme o evangelho, quanto Calvino (2011, p. 42)}
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