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Congregação da Igreja Batista Avenida Oeste, em Danville, Illinois (1955). Foto: https://faithdanville.org/history/ |
3. MOVIMENTOS SEPARATISTAS INGLESES E OS BATISTAS
A origem dos Batistas tem provocado diversas discussões ao longo do tempo. Seus marcos históricos diferem das demais denominações do Protestantismo Reformado, haja vista não remontarem a um fundador ou girarem em torno de um personagem de referência. Existem, ainda, algumas teorias divergentes quanto ao marco inicial e seu sucessionismo na História.
Perfilha-se aqui à teoria da origem no Movimento Separatista inglês do séc. XVII. Bem a sintetiza Traffanstedt, quando sustenta que a teoria mais satisfatória sobre a História dos Batistas é a de seu moderno início como denominação originada na Inglaterra e Holanda, no começo do séc. XVII. É a ideia que mais se aproxima dos fatos históricos. Na Inglaterra do início de 1600, surgiram dois grupos principais que podem ser classificados como: Batistas Gerais e Batistas Particulares (2015, p. 5).
Ambos os grupos batistas se inserem no contexto da Reforma Anglicana. Como descreve Pereira, dentro da Igreja Anglicana, além dos Puritanos, havia outro grupo dissidente que, pela ausência de outro nome, foi chamado de Separatistas. Eles eram evangélicos na doutrina, repudiando o Anglicanismo. Lutavam por igrejas independentes do Estado e por liberdade na forma de culto. Entretanto, apesar de numerosos, não estavam organizados. Foi deste separatismo que surgiram os primeiros Batistas ingleses (1979, p. 72–73).
Oliveira faz destaque a uma ligação originária destes Separatistas com o Puritanismo e o Calvinismo. Afirma que os Puritanos Não-conformistas continuaram apegados à teologia Calvinista. Mais radicais, terminaram saindo da igreja oficial, motivo pelo qual ficaram conhecidos por Separatistas ou Independentes, embora continuassem teologicamente Puritanos. A perseguição atingiu com mais força os Puritanos Separatistas do que os Conformistas. Para escapar da morte, muitos fugiram, principalmente para a Holanda (2011, p. 45).
De acordo com Crabtree, a partir do ano de 1610 é possível provar, com indubitáveis documentos, a sucessão ininterrupta de igrejas Batistas (1962, p. 33). Seguem algumas semelhanças e diferenças destes Batistas, ainda em estágio incipiente.
3.1. OS BATISTAS GERAIS
Partindo da definição do termo, o grupo dos Batistas Gerais ficou assim conhecido porque cria que a expiação de Cristo era “geral”, ilimitada. Eles também sustentavam uma convicção distinta, a de que havia a possibilidade de cristãos “caírem da graça”. Seus dois fundadores foram John Smyth e Thomas Helwys (TRAFFANSTEDT, 2015, p. 8).
John Smyth foi o primeiro dos Separatistas a enfrentar a questão do pedobatismo. Diz Pereira que, em 1606, Smyth se uniu a uma congregação separatista em Gainsborough, emigrando com o grupo para a Holanda em 1608, por causa da perseguição na Inglaterra. Lá, convenceu-se da necessidade de reconstruir a igreja mediante batismo de todos os membros. Como Helwys preferiu que a iniciativa fosse do pastor, Smyth batizou a si mesmo e depois aos outros, cerca de quarenta. Assim, em 1609 foi organizada em Amsterdam uma igreja batista de língua inglesa, a primeira Batista dos tempos modernos (1979, p. 73–74).
Entretanto, Smyth enfrentou muitos problemas depois dessa decisão. Foi duramente criticado e acusado de “sebatismo”, ao que aquiesceu. Logo após, pediu filiação aos Menonitas, acompanhado de cerca de 30 membros da igreja. A filiação lhe foi negada, e só foi concedida aos seus seguidores em 1615, três anos após a sua morte. O grupo menor permaneceu batista, tendo Thomas Helwys como pastor (OLIVEIRA, 2011, p. 55–56).
3.2. OS BATISTAS PARTICULARES
Retomando os termos, os Batistas Particulares vieram do Separatismo inglês, do mesmo modo que os Gerais, mas surgindo por volta de 1630. Foram fortemente influenciados por João Calvino, mantendo posição a favor da expiação “particular”, limitada (TRAFFANSTEDT, 2015, p. 9).
Conforme atesta Crabtree, a primeira igreja Batista Particular ou Calvinista foi organizada em 1633, por um dos grupos vindos da igreja Separatista organizada por Henry Jacob, em 1616 (1962, p. 34). Esta igreja ficou conhecida como “Igreja de Jacó”.
Por sua vez, Oliveira ressalta que a “Igreja de Jacó” é denominada por outros de “Igreja JLJ”, em referência aos seus três primeiros pastores: Henry Jacob, John Lathrop e Henry Jessey. Em 1638, um grupo de seis pessoas, liderado por John Spilsbury, separou-se amigavelmente dessa igreja por entender que o batismo deveria ser ministrados somente a crentes professos, rejeitando assim o pedobatismo. Esta última igreja ficou conhecida como Batista Particular (2011, p. 60).
Ademais, deve-se reiterar que a maioria dos primeiros Batistas rejeitou expressamente a teoria do continuísmo, dentre os quais John Smyth, Thomas Helwys e John Spilsbury (TRAFFANSTEDT, 2015, p. 13).
Portanto, os Batistas Particulares surgiram de modo organicamente independente dos Batistas Gerais. Apesar das diferenças quanto à teologia Arminiana ou Calvinista, ambos os grupos Batistas na Inglaterra adotaram princípios e práticas semelhantes, desenvolvendo-se separadamente até que, em 1891, uniram-se através da União Batista da Grã-Bretanha e Irlanda (OLIVEIRA, 2011, p. 61).
3.3. RAÍZES DO CALVINISMO EM EXPOENTES BATISTAS
Eminentes líderes entre os Batistas estão relacionados com a teologia Calvinista. É possível colacionar nomes como John Bunyan, Roger Williams, James Boyce, Andrew Fuller, John Gill, William Carey, Adoniran Judson, William Bagby, dentre muitos outros. Tal fato atesta a seriedade com a qual Batistas renomados propugnaram o Calvinismo.
Nesse ponto, a defesa a que Spurgeon se dedica é admirável. Ele assevera que o Calvinismo é um apelido, é o Evangelho e nada mais. Não é possível pregar o Evangelho se não for pregada a justificação pela fé, sem obras; a menos que se pregue a soberania de Deus em Sua graça; nem a menos que seja pregado o amor eletivo, eterno, imutável e conquistador de Deus. Não é possível pregar o Evangelho se não se tiver por base o resgate especial e particular de Seu povo escolhido, operado por Cristo na cruz; nem se pode compreender um Evangelho que permite aos santos a queda após serem chamados e consinta que os filhos de Deus sejam queimados no inferno após crerem em Jesus. Tal evangelho é abominável (2014, p. 11).
De certo modo, ressalta Kuyper, é possível afirmar que todo campo abrangido pela Reforma, até onde não foi luterano ou sociniano, foi inicialmente dominado pelo Calvinismo. Até mesmo os Batistas abrigaram-se sob as tendas Calvinistas. O que explica o aumento desses tons e diferenças é o caráter livre do Calvinismo, incluindo as reações contra seus excessos (2019, p. 15). E, certamente, não se pode olvidar a amplitude da influência exercida pelo Calvinismo sobre o Protestantismo, sob pena de perder-se o próprio significado de reforma.
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